Numa madrugada, na rodoviária de Paraty, eu estava à espera de Gabi, uma amiga que vinha de São Paulo para acamparmos.
Meu ônibus chegou por volta de meia-noite e o dela estava agendado para chegar às três e quarenta e cinco, se não me engano. Após a minha chegada, iniciaria a experiência da madrugada que me inspirou a fazer esta obra. Ao me sentar para aguardar, observei que ainda havia um número relevante de pessoas, o que fazia com que o local se tornasse aparentemente mais seguro, juntamente com alguns cães de rua que brincavam entre si. Conforme o tempo passava, a maioria das pessoas ia embarcando, e as poucas que desembarcavam já partiam, até o momento em que só restaram eu e os cães.
Depois de muita perambulância ao redor de onde eu estava, os vira-latas resolveram se aproximar, demonstrando bons sentimentos e por ali se acomodaram. Um se deitou atrás de mim, no espaço entre o banco em que eu estava e a parede, um abaixo, dois à minha frente e o mais serelepe, que aparentava ser o mais novo, não descansou por um minuto. A partir daquele momento em que fui adotado por aqueles cães, qualquer andarilho ou vira-lata que passasse perto de nós ou pensasse em passar por ali sofria um ataque de latidos e rosnados até que sumisse de vista, fazendo com que eu me sentisse seguro.
O ônibus da minha amiga chegou por volta de quatro e quinze da madrugada e, até aquele momento, eles me fizeram companhia. Alguns saíam para vagar por ali, mas sempre ficava um para manter o posto. Enquanto esperávamos o nosso próximo ônibus, em outro local da rodoviária, pudemos ver alguns dos meus seguranças perambulando pela área e servindo de prova concreta para a história que eu contava a ela sobre a experiência que eu havia vivido ali, naquela madrugada.